terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O ACORDO: Impaciente Impasse - José Caria Luís

Livro para o N.A.O.
Eu ACORDO, tu não ACORDO, ele ACORDOU...
O Livro dos N.A.O. (Novo Acordo Ortográfico) e do N.A.O. (Não Acordo Ortográfico) está aqui ao lado, em branco! Escrevam nele o que vos aprouver, mas escrevam, leiam mais e falem menos. Enfim! Uma trapalhada tal, que se fosse noutras zonas do Globo já tinha descambado em guerra civil. Isto, sem qualquer exagero.
    Conheço casos de quebras de amizades antes enraizadas, de ex-amigos do peito; confrontos, mal-estar e rivalidades - antes impensáveis - entre colegas de trabalho; arrufos de namorados; azedumes entre familiares bem chegados, onde até ocorreram casos de divórcio e se desfizeram lares por não terem chegado a um entendimento ortográfico; zaragatas, com violência, em grupos que, antes, frequentavam a mesma mesa do café, onde, em jeito de exibicionismo, alguns se deleitavam a fazer Palavras Cruzadas... Não esquecendo aquele fulano, um inveterado sportinguista que, não obstante a sua devoção clubística e, talvez, por mera retaliação, se passou para o clube rival só porque um amigo da outra cor propunha a aplicação do N.A.O. - coisa que abominava - e ele defendia o N.A.O. (parecem iguais mas não são). Por tais factos tudo se esboroou.
    Não sendo eu apologista de quaisquer tipo de guerrilha ortográfica ou fonética, e, ainda, muito menos especialista no que concerne à Língua Lusa, sempre me acho no direito de, à semelhança daquelas pessoas que, por tudo e por nada, sob as mais torpes algaraviadas, comentam e criticam o tema, vir a terreiro botar opinião afim. 
    Voltem eles (os especialistas) aos Hieróglifos, ao Latim, à era das Crónicas de Fernão Lopes, aos tempos de Luiz Vaz, Eça, Fernando Pessoa, e demais pessoas tidas como eruditas, digam como querem que eu escreva, que eu escrevo. Nem que, para tal, tenha que ressuscitar e encarnar um qualquer douto da Acrólpole, como Homero, um piramista Ramsés ou de um qualquer escriba da Via Latina. Não sou de todo tacanho na matéria, já que, em rapaz, era especialista a decifrar os Hieróglifos Comprimidos no, agora defunto, Diário Popular, aos sábados.  Se vierem a optar pelo Latim, já me sinto mais confortável, pois ainda conservo um livrinho auxiliar da Santa Missa, que me deu a Dª Regina Couto Viana, em Vale da Pinta, na década de 50, quando a senhora pensava que eu era um rapazinho exemplar, muito bem comportado e, achando que eu teria uma forte componente de vocação sacerdotal, me queria enviar para o Seminário dos Olivais. Sei que isso não me basta, mas, no caso de me ver grego, também tenho em casa a Eneida de Virgilio, que trouxe da tropa, da BA2, e sempre estou mais habilitado a atualizar-me do que se partisse do zero.
    Agora, para não maçar mais a plateia de leitores (se os houver), vou pensar em colocar um ponto final no tema, não sem antes tecer algumas considerações acerca do mesmo.
    Já vi de tudo o que de melhor e pior se pode opinar e escrever sobre o assunto. Até os que escrevem comentários de 50 palavras em que 40 são erros ortográficos, merecem a minha compreensão.
Que importa que um fulano/a digite "comessar", "houvir", "cançasso", "falcidade", "houveram", "ouvistes" ou "duzentas gramas", se no seu espírito estiver latente o conservadorismo linguístico? Nada a opor, portanto. Por isso, no que me toca, também acho que o N.A.O. devia ser repensado e ter em linha de conta certas palavras com as quais não concordo, embora eu ache que, no que concerne aos hífens, as alterações introduzidas fazem sentido, tanto assim que já adotei. No caso de: "pára" e não "para", não concordo.
   Divagando um pouco, dá para perguntar: por que razão não se escreve: Gilherme; gerra; gizo; jesto; "aljema"; "sercar", etc. A isto é que se podia chamar os "bois pelos nomes". Se é um G, é um G de gato; se for um J, é um de José; se for um S, é um S de Salomão, mas também de Sedo, mas não um C. Como "vaso" devia ser "vazo", seja substantivo ou verbo. "cazo" é que estava bem, porque se trata de ler um Z.
    Mas esta paranoia, devido à sua complexidade, e pelo que se está a ver do Acordo (?) de 1990, só deve entrar em discussão lá para o ano de 2100. Nessa altura já nem um de vocês cá está para poder discuti-lo, praguejá-lo e odiá-lo. Mas podem sempre (em vida) fazer testamento, delegando nos vossos bisnetos e trinetos, as paranoias de quem quer, à força, levar a sua por diante.
E, por ora (não hora), tenho dito.
    

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