quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A FÁTIMA e a (فاطمة) FATIMAH

Esta é a فاطمة  (FATIMAH)

Fatimah (فاطمة) e Fátima. 

Esta é uma insofismável verdade, já com muitos séculos. A palavra acentuada com o agudo, do foro toponómico, nem tanto, mas a simples, a original Fatimah (فاطمة), já vem de longa data. E nada me diz que esta tenha sido a primeira... Em Portugal há uma Fátima, com acento agudo, localidade que, pessoalmente, ou não, toda a gente conhece. Também no Brasil, que eu saiba, existem quatro povoações com essa denominação. Agora, meninas e senhoras a quem foi dado esse nome próprio - umas mais mediáticas que outras - temos muitas. Por cá e, também,  por lá. Se não vejamos: 
Em árabe, temos a original (?) فاطمة (Fatimah), filha mais nova de Maomé. Terá nascido em Meca, no início do século VII da nossa era. E, mesmo nos nossos dias, muitas mulheres árabes se assinam por فاطمة (Fatimah). Em Marrocos, onde estive de 1976 a 1978, deu para ver que havia por lá muitas meninas e senhoras com este nome. Por cá, idem. A começar pelas duas Fátima Lopes, até à "consagrada Fati", há a garantia de que o nome é para continuar. E na nossa vizinha Espanha, também por lá há lá muitas Fátimas. Mas, agora, perguntar-me-ão: 
-"Toda esta lengalenga vem a  propósito de quê?" E eu conto.
Raro é o dia em que eu, vindo da caminhada matinal, não paro na frutaria do Sr. Gaspar, a fim de me abastecer com umas frutitas que ajudem a compensar o esforço dispendido no circuito do Parque da Cidade. Este Gaspar é um tipo sisudo, macambúzio, casmurro e somítico, do tipo "unhas de fome", que, só de se olhar para a sua cara, dá vontade de dar meia volta e sair porta fora, sem nada comprar. Se fosse no Cartaxo, chamar-lhe-iam "rebola caixotes"; eu, aqui no Porto, chamo-o de "rebola maçãs". Mas, como em termos de frutas e hortículas, tem sempre boa mercadoria, faço o sacrifício de lá voltar a cada dia, quanto mais não seja para ouvir certas conversas, piadas e impropérios, proferidos pelas clientes, senhoras de bom aspeto, e não só, já não era tempo perdido. Mas, retomando o fio à meada, vou contar uma cena que por lá presenciei há dois dias e, como não podia deixar de ser, metediço como sou, também nela me envolvi.
E, mais palavra menos palavra, ouvi  isto:
"Se fosse eu a mandar, a RTP 2 não transmitia nem mais um capítulo dessa ridícula série com o título "PRÍNCIPE!" - e sem se deter - "Como se não bastasse a propaganda que fazem aos jihadistas, ainda põem lá uma gaja marroquina com o nome de Fatima. Ainda se ela fosse portuguesa, ou mesmo espanhola, ou fizesse papel disso, tudo bem, agora marroquina?!... Isto, é uma ofensa para a nossa religião e para a nossa Fátima!"
Como todos/as ouviram o mesmo que eu, mas ninguém lhe deu "troco", nem sequer o Gaspar, vi-me na contingência de o fazer eu próprio, por minha conta e risco (*). Então, perguntei-lhe: 
-" A senhora, o que é que acha se eu lhe disser que esse nome, embora adotado em várias latitudes, não é originário de Portugal?" 
- e responde ela:
- "O quê! Fátima não é nome português? Essa agora tem que ver!... 
- e disse-lhe eu: 
- "Pois tem que ver! A senhora é que tem que ver os escritos que documentam essa realidade! Leia! Leia, minha senhora, porque isso, só lhe faz bem! Porque esse nome é de origem árabe."
Bem! Assim que acabei o discurso, estava à espera de um contragolpe (como diria o J.J), com um chorrilho de asneiras... mas não. A senhora olhou em redor, como que a retemperar o fôlego e as energias, e disse:
-"Pois fique o senhor sabendo, que eu tenho em casa uma boa enciclopédia e uma grande biblioteca (esta gente exagera). Assim que lá chegar, já vou tirar isso a limpo!" - ao que eu, em jeito de remate de conversa, finalizei:
- "Acho muito bem que o faça, para se tirar de dúvidas! Depois, se nos cruzarmos por aqui, diga-me a que conclusão chegou!"
E acabou por aqui o proveitoso diálogo.
Ainda bem que eu também tenho visto essa série, senão, era capaz de ter que ficar calado, deixando a senhora argumentar à sua vontade, revelando a mágoa e a revolta que lhe iam na alma, pela afronta da menina bonita, que desempenha o papel de Fátima, ou Fatimah.


(*) Por minha conta e risco, porque, como é hábito aqui pela zona, o mais natural era ter que ouvir um chorrilho de asneiras. Mas, vá lá, escapei. 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

"LAMBEBOTICES"

A imprensa alemã diz que Maria Luís Albuquerque pediu à Alemanha que tivesse uma atitude mais dura para com a Grécia, durante o Eurogrupo.

O jornal alemão Die Welt diz que a ministra portuguesa das Finanças pediu pessoalmente ao homólogo alemão Schauble para se manter firme durante as negociações com Yanis Varoufakis.

De acordo com o jornal, o final do Eurogrupo ficou marcado não pela discussão sobre o acordo com a Grécia, mas pelos pedidos de Portugal e Espanha para se endurecerem as negociações.

O diário sublinha, no entanto, que este apelo ibérico não se refletiu depois na declaração conjunta final feita pelos ministros da zona euro.

Pudera e ainda bem! Gente sensata, não ia agora perfilhar tais ideias absurdas e despropositadas, só para agradar à Srª Angela Merkel. Basta de tanta "lambebotice"! 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

LUSÍADAS - Séc. XXI - D.C.

Deliciem-se com o poema deste novo Camões, do "Luís vais sem tostões!"... 
de que eu  não sou autor... 



  
 "Canalhíadas" 
             I
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

                     II
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

                    III
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta..

                     IV
E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!


     de:
 Luís Vais Sem Tostões

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O CARNAVAL dos OUTROS!


O Sol, quando nasce é para todos, mas o CARNAVAL, em VALE da PINTA, nem por isso. Para mim, pelo menos.
O ANTÓNIO BICHANINHA tinha acabado de dar o mote, proporcionando uma barrigada de riso a quem presenciou a cena. Deambulava ele, rua abaixo, rua acima, armado de óculos escuros, boina à espanhola na tola, vara na mão e "vara" no chão, isto é, munido de uma vara de marmeleiro, com o bornal da ração a tiracolo, apascentava uma "vara de porcos". Os porcos éramos nós, os putos, e a ração, em vez de milho, era composta por rebuçados, que o Bichaninha nos atirava, de cada vez que gritava ruuuuttt... e batia com a chibata no solo. Tinha uma vasta pera negra, queixo abaixo, e explanava, com prazer, a douta sabedoria de quem domina a arte de domesticar e conduzir bácoros, mesmo os de duas patas.
Quando, pela enésima vez, a "vara" passava junto à Taberna do Júlio Parente, foi o "porqueiro" interpelado por um forasteiro, um tipo da Maçussa, deste modo: 
- Ó chefe! Você não leva a mal que eu faça um comentário, pois não?!
- e responde o Bichaninha -
- Essa agora!... Ó Mestre, agora é Carnaval, por isso não levo a mal!...
- e disse o forasteiro: -
- Ó chefe, você com essa PERA, parece mesmo um BODE!
- e responde o Bichaninha -
- Olhe, e a você, para ser um BODE, só lhe falta a PERA!...

O "provocador" ficou ruborizado, mas, já que era Carnaval, não se desmanchou.
Mercê disso, talvez animados pela piada, eu mais o António Manuel e o Duque, a fim de não perder o balanço, fomos, cada qual a sua casa, e vai de envergar roupa alheia, o mais disforme possível, para que não fôssemos reconhecidos. Já Trapalhões, juntámo-nos e vai de iniciar aquilo que devia ser a volta à terra. Ao passarmos junto da casa da Ema, fomos confrontados com uma dezena de raparigas. Lembro-me de algumas, como a Ema, a Luísa Neves, a Maria Beatriz e alguns adultos, como a Elvira do Forno e as suas gentes, cada qual vaticinando quem era quem.
- Aquele é o Duque! - dizia uma.
- Aquele é o António Manuel! - dizia outra.
- E aquele, de careta encarnada, quem será?
E, durante uns cinco minutos, não havia por ali ninguém que conseguisse descobrir quem era o incógnito. Até que  uma voz de comando, vinda dos lados da minha casa, me sentenciou:
- Ó Zé, eu vou sair, e a menina está a dormir! Agora, não vás acordá-la, senão levas!
Risada geral e, em coro, todos gritaram:
- É o Zé Luís! É o Zé Luís!
Pois era eu! Ao sentir-me descoberto, de modo tão inglório e humilhante, dei um safanão à caraça, rasgando-a em duas, despi-me ali mesmo, à frente daquela gente toda, espezinhei as vestes e berrei que nem um desalmado, batendo os pés no chão, a fim de descarregar a ira que me ia na alma. À noite, paguei as "favas", pela má educação. Mas a culpa foi minha? Ainda hoje, acho que não. Mas foi remédio santo: desde então, nunca mais me mascarei pelo Carnaval.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

QUEM PARTE, PAGA!

VALE da PINTA, ALEMANHA, a GRÉCIA e a Manteigueira.

 A propósito da notícia, não me esqueço nunca de certas cenas ocorridas - e por mim presenciadas - em tabernas de Vale da Pinta, nos meus tempos de miudo.

 Uma vez, o Carraça partiu um copo, e o dono da taberna, o Júlio, disse-lhe: "Quem parte, paga!" E o Carraça, mesmo no limiar do teso, pagou.

 De uma outra vez, na taberna do Zé da Leonor, o Prestes partiu um copo, tendo o dono da tasca, dito: "Quem parte paga!" Mas o Prestes, ao contrário do Carraça, não quis pagar. Como solução, o Zé saiu de trás do balcão e espetou-lhe duas chapadas na cara. A dívida tinha ficado saldada.

 De uma vez, ainda, a Bernardina do Tobias ia conduzindo a sua carroça, quando eu me pendurei no taipal posterior da mesma. A senhora, porque achava que eu estava a prevaricar, saca de um saco de pano e, sem o largar, fez menção de me atingir na cabeça. Por isto ou por aquilo, ela falhou o alvo e o saco foi esbarrar no duro taipal da carroça. Tudo isto seria normal, não fora o som agudo de um tilintar saído do interior do saco, de onde a senhora Bernardina metera uma manteigueira de vidro. Os estilhaços provocaram-me riso, mas à dona dos cacos nem por isso. Tanto assim, que se dirigiu à minha mãe exigindo o pagamento daquilo que, antes, fora uma linda manteigueira, de côr azulada. E disse: "Ó Mónica, quem parte paga! O teu Zé partiu-me a manteigueira e tu vais ter de a pagar!" Resposta da Mónica: "Isso é era bom! Quem a partiu foi você! E teve sorte em não ter atingido o meu Zé, senão, à semelhança dessa peça, também você levava a cara partida!" E lá foi a senhora Bernardina, praguejando raios e coriscos, conduzindo a sua carroça, na qual não permitia penduranços de rapazolas malcriados, nem que, para tal, tivesse que sacrificar uma peça de arte da sua coleção de vidro.

 Moral da história: a Alemanha PARTIU, a Alemanha vai ter que PAGAR! Por isso, coloco-me ao lado da Grécia, quando esta exige ser ressarcida pela destruição de que foi alvo por banda da Alemanha, mas já não concordo com o argumento de que a potência germânica tenha que, também, ser indemnizada pelos obuses que, algumas vezes, falharam os alvos gregos.

Grécia vai exigir à Alemanha indemnizações da II Guerra Mundial

O braço de ferro entre o primeiro-ministro grego e a Europa continua. Agora Alexis Tsipras revelou que pretende reclamar à Alemanha cerca de 162 mil milhões de euros referentes a indemnizações da Segunda Guerra Mundial.