domingo, 13 de julho de 2014

POBRES Sandes, RICOS Feirantes

Mas afinal vale a pena comer num festival de verão?


Ver concertos, beber cerveja, tirar umas fotos e pôr a conversa em dia. Mas quando chega a fome... safamo-nos?

Não é preciso ser crítico gastronómico para que choremos quase todas as opções alimentares, ao ritmo de 4 a 5 euritos por petisco. Na quinta-feira, o jornalista atacou uma sandes de carne de porco e saiu-lhe suíno chamuscado e seco, sem ponta de suculência. Porca miséria. Mal refeito da desfeita, vingou-se num kebab que levou mais cenoura ralada do que chicha. Hoje, foi tirar o pulso a uma sande de leitão e além da parca quantidade de carne do bicho, ainda teve de mastigar um pão com consistência de ontem. Que saudades daquela nota de 5.

Depois há as promessas que não se cumprem: uma das casas mais afamadas destas lides festivaleiras exibe num dos seus estabelecimentos uma imagem gigante de uma francesinha. Ah, mas afinal não há (a foto é só para que um tipo sonhe em apanhar um Intercidades para o Porto, certo?). Só há o que está na lista improvisada, escrita a esferográfica: hamburguer, cachorro, kebab (já perceberam que aquilo não é um kebab de verdade?), pão com chouriço (pão, pão, pão, e uma miragem de salpicão). Bem perto, o bolo de chocolate que não experimentámos, mas anuncia-se o melhor (e quem se anuncia o melhor normalmente não é o melhor); e as empadas, os queijos, o presunto. Quase tudo de 5 euros para cima, apesar de demorarem 20 segundos na boca.

Entristecidos e esfomeados, fugimos do leitão em bolo do caco (hã?) e sonhamos com as opções mais variadas (e nem sempre a bater nos 5 euros) de outro festival, patrocinado pela mesma marca, 300 quilómetros a norte (o repórter aprova o lanche misto, os rissóis, as empadas, a sandes de pernil com queijo da serra). E, caramba, estamos em julho, porque não assar umas sardinhas? Algés é quase Lisboa.

Ler mais: http://blitz.sapo.pt/mas-afinal-vale-a-pena-comer-num-festival-de-verao=f92912#ixzz37LBHmkL6. Luís Guerra


Junk food

-Imagens visionárias-


FESTIVAIS e PROMOÇÕES
    Nas décadas de 40, 50 e 60, já no Cartaxo era assim.
    Todos sabemos quão provinciano e parolo é considerado (por muitos?) o facto de se levar petiscos caseiros (daqueles que são mesmo feitos em nossas casas) para festas, romarias e afins, mas não deixa de ser verdade, que, ao menos, sabemos o que temos ali para comer, tanto em qualidade como em quantidade. Eu, talvez por força das etiquetas afixadas pelas normas sociais, não costumo viajar de sacola com farnel às costas, mas isso foi coisa de que me arrependi em múltiplas ocasiões. Pelos factos abaixo assinalados e para não ser vítima da famigerada fomanga, penso que, muitas vezes, mais vale correr o risco de passar por provinciano, munido de umas sandoscas caseiras, saciando a gula e poupando umas coroas, do que armar ao fino e descambar numa barretada de todo o tamanho, pagando bem para comer mal. É o que me tem acontecido. E, prafraseando os XUTOS, "não sou o único".
    O modelo vigente, adotado pelos feirantes e áreas de serviço das A.E., não é coisa moderna, pois que, em tempos remotos, umas décadas atrás, nos bailes da Sociedade Filármónica, em Vale da Pinta-Cartaxo, havia o (mau) hábito de se fabricar sandes de chouriço sem o dito. E o pior é que nós tínhamos que pagar uma sandes de chouriço, para comer um simples paposseco, mesmo muito seco, lambuzado de colorau picante, que era para "puxar para a pinga".
    Tudo isto, evidentemente, sem falar nos outros festivais: os de marisco e de outras gastronomias de promoção regional, como eles dizem. Ora um festival daqueles deveria contemplar a promoção do produto e, para isso, além do esmero com que os pratos deveriam ser feitos, também os preços do menu seriam para promover o evento, e não o comerciante à categoria de novo-rico. Mas a falta de higiene, barafunda e trafulhice são tão evidentes, que nem disfarçado se safa. Mas "eles", os promotores, safam-se e bem! No Cartaxo, por exemplo, faziam-se festivais de vinho nas adegas particulares, porque, deste modo, o produto alcançava uma rendibilidade muito superior àquela que obteriam negociando com a Adega Cooperativa.  Ora, sabendo-se que o vinho saído do tonel do pequeno vinicultor era de grau algo elevado, havia que cozinhar ali, ao vivo, de modo presencial, uns petiscos de modo a fazer peito e garantir amparo ao cliente. Havia uma grande disputa entre adegas. O pessoal elaborava um ranking, que passava de boca em boca, distinguindo a qualidade de cada uma delas.
    Certa vez, fui convidado pelo Edmundo Duque para um prova de tinto numa adega, que ficava ali para os lados do Regatinho. Não aceitei à primeira, mas concordei à segunda. O Duque, tentando arrastar-me para a beberrice, argumentou que a mulher do dono fazia uns petiscos, como chouriça assada, febras, moelas e molhinhos... Dizia-me que era de se lhe tirar o chapéu, e, em termos de higiene, parece que era exemplar. A mulher até cozinhava ali à vista de toda a gente... Como sou guloso por molhinhos, anuí. Dizia-me o Duque, que tudo lá era muito bom e que até a senhora cozinhava ali à vista de todos.
    Eu, fui arrastado, mas fui. Encostei-me a um improvisado balcão, pedi uma dose e fiquei por ali, a ver o desenrolar das tarefas. Afinal, a senhora, que era a dona, apenas tinha como função fazer as contas e receber a massa, mas não metia as mãos na massa. Uma outra, mais mal arranjadita, que seria a copeira, é que amassava e engendrava os petiscos. Esta, desembaraçada q. b., não tinha mãos a medir, mas o seu braço media-o ela com insistência. Dava para ver, pelo manobrar do garfão, que ela seria destra, e como tinha o braço esquerdo livre era esse que utilizava, qual corrediça, ao correr da manga, com sofreguidão, na tarefa de assoar as ventas. Tanto sebo tinha nas mangas como nos oleosos cabelos. Com a guedelha ali ao léu, sem um lenço, uma touca ou um pano... 
    Mudei de ideias e anulei o pedido dos molhinhos, de que tanto gostava. Optei pelos enchidos, porque nesses, acabados de sair do lume, não meteu ela as manápulas.
    Volvidas foram algumas décadas, sempre que me desloco ao Cartaxo faço questão de trazer molhinhos para o Porto - coisa que por cá não sabem fazer -  mas, sempre os como, vem-me à lembrança a cena do correr da manga, como se fosse um o arco de um violino. 

-ZÉKARIAS44-